UMA VIDA, UMA HISTÓRIA, UM EXEMPLO
Maior do que a honra de haver sido designado pelos meus queridos sobrinhos Edson, Edélcio e Élcio para redigir este despretencioso preâmbulo, é indubitavelmente o privilégio da oportunidade de poder deixar aqui registrados os meus mais puros sentimentos de amor fraternal e de profunda amizade que reciprocamente sempre nos uniram com o meu estimado irmão, o poeta José Delcy Thenório, autor deste livro.
Ao longo de nossa existência, com a graça de Deus, jamais nos ocorreu qualquer incidente egoísta ou de aproveitamento próprio, muito pelo contrário, sempre um socorreu ou colaborou com o outro nas situações mais difíceis de nossas vidas.
Na minha longínqua infância sempre admirei a sua inteligência e responsabilidade, mormente na Vila Élvio, antiga Cama Patente, em Piedade, em cuja serraria onde trabalhava era incumbido de “cubicar quadradinhos”, isto é, a fábrica produzia caibros de várias bitolas e de diversos comprimentos para a fabricação de Cama Patente numa outra unidade da Ponte Pequena,a em São Paulo, sob a marca de Luiz Lício & Cia.
Estes quadradinhos eram enfardados sem quantidade fixa e colocados em caminhões, e por fim, transformada a carga em metros cúbicos calculados por um menino de onze para doze anos de idade que ainda cursava o 3º ano primário na Escola Mista Rural da Cama Patente, sob o comando da Profa. Maria Eliza de Azevedo Cintra.
A responsabilidade e a precisão de seu trabalho surpreendia a todos, inclusive a mim que ainda penava nas tabuadas. Talvez Delcy não se tenha dado conta disso.
Até o Sr. Jorge Dejian, concessionário do único e grande armazém na vila, interessou-se pelo calculista precoce, admitindo-o algum tempo depois, para auxiliar direto tanto como balconista, como para os cálculos e controles das mercadorias.
Mais tarde, já com 14 ou 15 anos de idade, mudamos para o bairro Liberdade, em Piedade, num sítio de nossa propriedade, com o objetivo de derrubar a mata e transformá-la em lenha para carvão fabricado em fornos cavados na terra.
Em dois anos de trabalho, mais de sete alqueires de florestas sucumbiram ante nossos machados afiadíssimos, das marcas “Corneta” e “Colins”, transformados em carvão vegetal, sempre na companhia indefectível de nosso querido cãozinho Ourinho, que sobreviveu a um atropelamento de automóvel que lhe quebrou uma patinha e também ao ataque de uma serpente urutu.
Papai, sempre com a sua carrocinha puxada a burro, transportando para os fornos as lenhas por nós cortadas, e a nossa mãe atuando nos afazeres domésticos e, nas horas vagas, ajudando-nos a enfornar lenha ou desenfornar carvão.
Era a lei da sobrevivência, pois estávamos em plena 2a. Grande Guerra Mundial e não havia alternativa para nós, pois, a lenha e o carvão eram os únicos combustíveis domésticos. Ainda não existia, para nós, o gás de petróleo.
Os caminhões e automóveis eram abastecidos e movidos, em grande parcela, por carvão vegetal o qual, uma vez abrasado em dispositivo próprio, transformava-se em combustível gasoso, denominado gasogênio.
Já em Santo André, a partir de 1943, continuamos sempre juntos cuidando de flores e jardins, tanto na Chácara Taumaturgo como na Chácara do Francês, de Alexandre Zirlis, na Vila Luzita onde ganhamos dinheiro à beça plantando grama por metro quadrado.
Chegamos a ganhar, cada um de nós, salários duplamente superiores ao de nosso pai que trabalhava na Firestone.
Mais tarde, já em 1945, encontramo-nos na Pirelli, o autor trabalhando no escritório da Seção Transporte e eu na Sala Cabos até 1951, quando novamente nos separamos, visto que ingressei na Rhodiaceta em 08 de Fevereiro de 1951.
Em 1956, para trabalhar em melhores condições, Delcy foi para a firma Internacional, montadora de caminhões, onde hoje está o Supermercado Carrefour, próximo à Pirelli.
Ao iniciar o trabalho nesta nova empresa, foi-lhe oferecida uma vassoura para o salão industrial. Sua reação negativa foi imediata. Sentiu ferida sua dignidade, não obstante serem seus filhinhos ainda infantes e necessitar do emprego.
Naquela mesma época houve uma grande reviravolta na administração da Rhodiaceta, quando fui transferido para o setor de correspondência e estatística da Contabilidade Geral, vagando, assim, o meu cargo de auxiliar do Departamento do Pessoal, sob a chefia do Sr. Carvalho.
Não tive dúvidas em apontar o meu respeitado irmão para substituir-me naquela importante função de confiança que trabalhava com valores dos operários.
Na Rhodiaceta, depois denominada Rhodia, o autor encerrou suas atividades por motivo de aposentadoria no ano de 1981, em cuja empresa, creio eu, passou os melhores dias de trabalho de sua vida profissional.
Que assim seja, e que você aproveite, ao lado de sua dileta esposa Antonieta, o seu merecido descanso, fazendo o que realmente gosta, inclusive jogando o seu inocente carteado, com os seus amigos de truco, no clube da Vila Pires.
Contudo, não se esqueça, nas horas vagas, de escrever as suas bonitas poesias, para a alegria e encanto de todos nós.
Que as nossas vidas continuem com boa saúde até o limite desejado por Deus, e que a nossa amizade de amor fraternal permaneça para sempre.
Do seu irmão,
Luiz Dias Thenório Filho (1928 - 2008)
Santo André, 11 de junho de 2004
1 comment
maio de 2009 at 13:27
Leonardo
Parabéns Sr Delcy. Já havia lido, e gostado, dos originais escrito ainda na “antiga máquina de escrever” Li também no livro, que o Elcio me presenteou, e ainda tenho guardado. Gostei também desse “crepúsculo”, que a julgar pelo seu estado de saúde, esse poema antecede a muitos outros, que por certo virão. Novamente parabéns e espero que continue escrvendo. Se me enviar se e-mail , tentarei enviar-lhe algumas fotos com aqueles poemas, tipo hai-kai, de que lhe falei.
Um grande abraço e um beijo na dona Antonieta. Qualquer hora apareço pra mais um café.