INFÂNCIA

Quinze anos vivi na roça
Descalço, meio desnudo
Minha sola de tão grossa
Desdenhava espinho agudo

Perambulava na mata
No campo, na capoeira
Tomava banho em cascata
Em ribeirão, corredeira

Frutos diretos do pé
Avidez por mel silvestre
Sempre encontrei meu filé
Tinha faro de cão-mestre

Bicho-de-pé, carrapato
Pium e bicho cabeludo
Eram problemas de fato
Mas eu contornava tudo

Na pesca da taraíra
Sem condição aparente
Mesmo com linha de embira
Ninguém me fazia frente

Hoje me vem a saudade
Daquele tempo risonho
De tanta felicidade
Que agora parece sonho