A MUDANÇA

Em julho de 1936 nós mudamos do bairro do Campo Verde, município de Ibiúna, para o então chamado Bairro dos Pintos, município de Piedade. Chamaram-me a atenção diversas particularidades, umas agradáveis, outras não. Dentre as agradáveis, cito a quantidade de lambaris grandes e de mandis-chorões existentes no ribeirão que passava nos fundos de nossa casa, onde eu passava muito tempo e de onde retirava a proteína necessária para toda a família. Foi ali que eu aprendi a nadar, a jogar truco com o Eduardinho e alguns de seus irmãos.
Aos domingos, pegávamos uma carona no caminhão do Sr. Amador Pereira, e íamos na venda do Alemão, bairro do Caetesal, onde havia futebol, bocha, baralho, sempre num ambiente festivo.
Dentre as desagradáveis, havia o costume de, na quaresma, reunirem-se diversos rezadores que iam de casa em casa, onde chegavam silenciosamente e entoavam uma oração lúgubre que fazia os meninos como eu tremerem de medo.
Outro fato que me assustava era quando traziam defuntos envoltos em lençóis e transportados em redes, nas quais introduziam um varão que dois homens conduziam. Dada a grande distância entre o sertão e o cemitério da cidade, uma providência precisava ser tomada cada vez que alguém ia prestar contas no Além… Assim, um vizinho do falecido saía de casa cedinho e vinha avisando outros vizinhos ou conhecidos para esperarem no trajeto e colaborarem no transporte, por demais cansativo.
Cumprida a missão, o parente mais próximo do morto convidava todos os participantes para “matarem o bicho” e logo após retornavam aos seus lares. Depois disso havia a novena para encaminhar aquela alma a um lugar santo e definitivo.