Parecia estar maluco
Em não saber quem eu era
A ficha caiu, pudera
Era parceiro no truco
Só de me ver de pés juntos
Sentiu certa dor no peito
Meu colega, bom sujeito
Hoje é um dos defuntos
Mas é assim que acontece
Há pouco, muito sorriso
De repente, sem aviso
Azula, desaparece
Como já saiu de cena
Então vaga pelo mundo
Mas folgado, vagabundo
Vai protelar sua pena
Pela crença que seguia
Tudo paga aqui na terra
Mas o ciclo não encerra
Deve voltar qualquer dia
Quem no velório aparece
Depois de tudo o que fez
Supõe bastar desta vez
Balbuciar uma prece
Campeã de fingimento
Já se sabia que era
Só que para ser sincera
Precisa de cem por cento
Se não cultiva o amor
Não sei qual é a razão
Mas ter novo coração
Só mesmo Nosso Senhor
Eu tenho cá para mim
Que se quita o quanto deve
Até quem tem pena leve
Paga tintim por tintim
Uma mulher aparece
Eu garanhão assumido
Jovem, com muita libido
O que se deduz acontece
Acordo, caio na minha
Pareço meio caduco
Sonhasse então ser eunuco
Muito mais sentido tinha
Mas chega de devaneio
Nem tudo o que quero posso
Eis porque a vida adoço
Se não encontro outro meio
Tudo no mundo tem fim
Então, paciente espero
Partir confesso que quero
É descanso para mim
Mas deixar carga pesada
Talvez por um ou mais anos
Não estava nos meus planos
E não posso fazer nada
Se tantos males eu fiz
Devo me julgar feliz
Em pagar o quanto devo
Para cada mês que passa
Ao Pai maior rendo graça
Até por já ser longevo
Pesada é minha cruz
Mas nunca me falta luz
Neste meu duro caminho
A vida por ser tão curta
Se da morte não se furta
É minha vez, já definho
Se dependesse de mim
Quando chegasse meu fim
Levava minha consorte
Penso que o lado de lá
É bem melhor que o de cá
Daí não temer a morte
Se o parente verdadeiro
Partiu para a eternidade
Agora a cara-metade
Dispõe de todo o dinheiro
Isso vai mexer com ela
Empolgada com a grana
À cunhada uma banana
Mudou, não é mais aquela
Então a parente afim
Dona do próprio nariz
Tem hoje a vida que quis
Livre, vive bem assim.
Mas no futuro decerto
Ou no presente talvez
Daquilo que em vida fez
Prestará conta por certo
Nota: Leonel Brizola, político riograndense
]]>Nem parece ser parente
Esse indivíduo carola
Para o vigário dá bola
Só tem a igreja na mente
Lá ele bate no peito
Pede perdão porque peca
Quem sofre que leve a breca
Agora o mal foi desfeito
Visitar um ser doente
É demonstração de amor
Esquecê-lo causa dor
Se foge sendo parente
Afastamento, desprezo
Mesmo de parente afim
Queira ou não magoa sim
Quem nos ombros leva o peso
Uns perdem a compostura
Ao ver tamanha maldade
Que de ofender tem vontade
Mas por bom senso segura
Há muitos males no mundo
Que podem levar à morte
Por muito que seja forte
Morre em questão de segundo
Temo assumir compromisso
Dada a fase que atravesso
Sinto mas vênia lhe peço
Logo quem nunca foi disso
Hoje preciso ser forte
Para levar minha cruz
Mas peço força a Jesus
Para cuidar da consorte
Esse peso que carrego
Parece ser uma prova
Porém Jesus me renova
Razão porque não me entrego
Vida é curta passagem
Logo mais tudo se finda
Tenho cartuchos ainda
Chama-se fé e coragem
Por não temer o futuro
E já ter noção do além
Procuro proceder bem
Longe porém de ser puro
Se não vivo como santo
Confesso, sou pecador
Mas Deus que é puro amor
Acolher-me-á, garanto
Enquanto Ele não me chama
Temo ficar neste mundo
Mormente se moribundo
Diuturnamente na cama
Morrer sei que é preciso
E não tardará decerto
Pode ser que esteja perto
Deus vai cobrar, estou certo
Certa vez, a convite de um amigo que tinha carro (fato raro nos idos de 1950) fomos pescar em certo lugar da represa onde, segundo ele, faríamos uma grande pescaria de lambaris. Esse amigo convidou também um senhor que tinha um compromisso de retornar a tempo para almoçar na casa de certo parente.
Achei aquilo muito estranho mas nada falei a respeito. Chegamos no lugar indicado pelo amigo mas a pescaria foi infrutífera, quer com anzol quer com a pequena rede de minha propriedade.
Devido à frustração propus fôssemos no citado Bairro Alvarenga, meu local de pesca preferido, onde certamente teríamos melhor sorte. Chegados, decidimos fazer uma barragem no córrego e começamos a passar a pequena rede em direção à barragem com relativo sucesso.
Quando chegamos à barragem já passava de meio-dia. O dono do carro e seu amigo compromissado já se preparavam para deixar o local mas, nesse momento, entramos no lago criado pela barragem e ali os lambaris e outros peixes estavam concentrados de tal modo que os lambaris saltavam por sobre a redinha , tamanha a quantidade. Isso trouxe de volta os dois que estavam fora de saída.
Empolgados eles também perderam a noção do tempo e, assim, por mais de uma hora continuamos a empreitada de modo hilariante.
Eram quase 14,00 horas quando entramos no carro para retornar a Santo André. O compromissado foi o primeiro a ser deixado em seu domicílio.
Ao chegarmos já ouvimos os impropérios ditos pela esposa alucinada com o procedimento do marido… Ela só não o chamou de santo, tamanha a fúria.
Eu, constrangido e aborrecido, coloquei alguns peixinhos na minha marmita e procurei manter distância do local.
Sentindo a gravidade do momento, assumi uma posição de nunca mais levar para uma pescaria alguém compromissado. Ainda hoje, passados mais de 50 anos, mantenho meu propósito. Pescador que se presa não assume nenhum compromisso em dia de pescaria para não complicar a vida dos companheiros. A pesca é para refrescar a cabeça.
]]>Muito tempo de tortura
Gastou, ficou na pindura
Mas vê mudança na vida
Tem melhora a cada dia
Graça que sempre pedia
Ora por Deus atendida
Mas encarava com riso
De o viver não ser preciso
Como por vezes ouvia
Aqui só uma passagem
Depois a grande viagem
Somente assim ela cria
Quem tem esse pensamento
Sente deveras alento
Mesmo quando moribundo
Acha ser dever de Deus
Cuidadoso com os seus
Dar-lhe guarida além-mundo